segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Medo do Poder

O célebre antropólogo Mircea Eliade nos diz que o homem comum que acredita na manipulação de forças superiores normalmente tenta estabelecer contato com o mundo mágico-religioso - através de rituais, práticas e técnicas geralmente elementares e limitadas - apenas na medida necessária para angariar o poder suficiente para atender suas próprias necessidades pessoais (fartura nas colheitas, proteção contra mau-olhado, etc), SEM a idéia de tornar-se realmente um curandeiro ou bruxo, via um acúmulo ou aumento significativo desse poder, visto o temor de ser obrigado a renunciar a seu status sócio-religioso e ter que se transformar num instrumento mais ou menos maleável à uma manifestação qualquer do Sagrado (deus, espírito, ancestral, etc.). Ou ainda, mais do que pelo medo da carga ou do peso do poder, pelo temor de PERDER alguma coisa que estima (sanidade mental, aceitação social, correção política, etc), acrescento eu. Na verdade, são pessoas que no fundo não querem mudar nada realmente, mas que desejam apenas aumentar seu pequeno arsenal "mágico-religioso", para coisinhas do dia-a-dia, sem o risco de perder a alma ou o juízo... Contudo, Castaneda alude especificamente à essa renúncia a uma condição socialmente estável, como requisito essencial para obtenção de poder. Dizendo, por exemplo - via o bruxo Don Juan - que a única regra fixa da bruxaria é o contínuo acúmulo de poder, mesmo que às custas da perda de valores sociais e do status de homem "normal". Porém, como visto acima, parece que na medida em que a constatação de pequenos sucessos nesta área começa a apontar para uma transformação pessoal, o homem começa a se defrontar com o medo de atravessar algum limite do qual não possa retornar depois. Acredito que seja aí nesse limite, então - seja no caso da bruxaria, da mediunidade ou das demiurgias em geral - que termina o simples desejo, e começa a vocação. E que quem pensa muito na aceitabilidade social e na correção política da bruxaria não vira bruxo jamais. Bene Bene Cohen